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A relação entre procrastinação, autoestima e motivação no meio acadêmico


Introdução

A procrastinação acadêmica é frequentemente entendida como uma dificuldade de autorregulação temporal (Lama & Brenlla, 2022). Trata-se da tendência habitual de adiar tarefas, muitas vezes mesmo sabendo das consequências negativas desse adiamento (Bouc & Pessiglione, 2022).

Diversos estudos internacionais apontam correlações entre procrastinação, motivação e autoestima em contextos universitários. Por exemplo:

  • Nigéria: correlação positiva entre motivação e procrastinação (Okoye & Oghenekaro, 2020)
  • Espanha: procrastinação associada ao desempenho acadêmico (Pedromo et al., 2022)
  • Turquia e países de língua inglesa: entre 50% e 52% dos estudantes procrastinam academicamente (Ertem & Ari, 2022)

A autoestima é compreendida como um composto de emoções, percepções e cognições sobre si mesmo, relacionada diretamente à qualidade de vida (Bear et al., 2017; Oliveira, 2023). Também há evidência de que maior autoestima está associada a maior motivação (Ertem & Ari, 2022).

Este estudo buscou investigar como esses três fatores — procrastinação, autoestima e motivação — se relacionam entre estudantes universitários brasileiros.


Método

A pesquisa contou com 177 participantes universitários (entre 18 e 64 anos, de diversos gêneros). Foram utilizados três instrumentos psicométricos:

  • Escala de Autoestima de Rosenberg (RSES)
  • Escala de Avaliação da Motivação para Aprender (Boruchovitch & Neves, 2005)
  • Procrastination Scale (Tuckman, 1991)

Todos os instrumentos foram adaptados para escala Likert de 1 a 5. A coleta foi realizada via redes sociais, com consentimento informado (TCLE).


Resultados

Confiabilidade dos instrumentos (Alfa de Cronbach):

  • Motivação: 0,81 (boa confiabilidade)
  • Autoestima: -0,53 (inadequada)
  • Procrastinação: 0,93 (excelente)

⚠️ A confiabilidade negativa da escala de autoestima levanta dúvidas sobre a precisão desse instrumento neste estudo, representando a principal limitação da pesquisa.

Médias obtidas nas escalas:

  • Autoestima: 3,33 (DP = 1,03)
  • Procrastinação: 2,96 (DP = 0,59)
  • Motivação: 3,08 (DP = 0,17)

Tendência geral da amostra: autoestima e motivação relativamente altas, com leve tendência à não procrastinação.

Correlações entre variáveis (coeficiente de Pearson):

  • Autoestima x Procrastinação: r = -0,607, p < 0,001 → Quanto maior a autoestima, menor a procrastinação.

  • Autoestima x Motivação: r = 0,220, p = 0,003 → Quanto maior a autoestima, maior a motivação.

  • Procrastinação x Motivação: r = -0,148, p = 0,051 → Indivíduos mais motivados tendem a procrastinar menos.

Correlações com a idade:

  • Idade x Autoestima: r = 0,168, p = 0,027
  • Idade x Procrastinação: r = -0,166, p = 0,029
  • Idade x Motivação: r = 0,133, p = 0,033

Pessoas mais velhas tendem a apresentar maior autoestima e motivação e menor procrastinação.


Discussão

Os resultados corroboram achados anteriores da literatura:

  • Há uma relação negativa entre procrastinação e autoestima, como indicado por Luy (2020).
  • Também se confirma a relação positiva entre autoestima e motivação (Ertem & Ari, 2022).
  • A procrastinação mostrou-se negativamente relacionada à motivação, em linha com estudos como o de Ferrari et al. (2012), embora neste caso com p = 0,051 (limítrofe).

A principal limitação do estudo foi a baixa confiabilidade da Escala de Autoestima de Rosenberg na amostra, o que pode ter comprometido a validade dos dados sobre autoestima.


Conclusão

Estudantes universitários que apresentam maior autoestima tendem a ser mais motivados e menos propensos a procrastinar. Estratégias de intervenção que reforcem a autoestima podem, portanto, ter impacto positivo no desempenho acadêmico e na saúde mental de estudantes.


Referências

Bear, G. G., et al. (2017). Self-concept and self-esteem. Educational Psychology Review. Boruchovitch, E., & Neves, E. M. (2005). Escala de avaliação da motivação para aprender. Bouc, R., & Pessiglione, M. (2022). Why do we procrastinate? Nature Communications. Ertem, H., & Ari, R. (2022). Academic procrastination and self-esteem: A meta-analysis. Lama, A., & Brenlla, M. E. (2022). Psychometric properties of the Procrastination Scale. Luy, M. (2020). Self-esteem as a predictor of procrastination in college students. Okoye, P. U., & Oghenekaro, P. (2020). Motivation and academic procrastination. African Journal of Education. Oliveira, M. F. (2023). Autoestima e qualidade de vida. Pedromo, A. L., et al. (2022). Procrastinação e rendimento acadêmico em universitários. Tuckman, B. W. (1991). The development and concurrent validity of the Procrastination Scale.

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